Por Cesar J. Rosa – São Paulo (SP) – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, anunciou nesta terça-feira (30/9) que a Polícia Federal (PF) abriu uma investigação para apurar o aumento de casos de intoxicação por metanol em São Paulo. Até o momento, o estado registrou 22 casos suspeitos, sendo 5 confirmados e 17 em investigação, além de cinco mortes sob suspeita de relação com a substância, segundo o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva.
A principal suspeita é que as vítimas tenham consumido bebidas alcoólicas adulteradas. Em ação conjunta, a Vigilância Sanitária e a Polícia Civil fecharam dois bares na capital paulista — Ministrão, nos Jardins, e Torres, na Mooca — onde teriam sido consumidas bebidas possivelmente contaminadas.
O governo estadual de Pernambuco também investiga três casos suspeitos, incluindo duas mortes e um caso de perda de visão.
O que as investigações apontam
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Todos os casos em São Paulo estão ligados ao consumo de bebidas suspeitas em bares e adegas.
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Tipos de bebidas consumidas incluem gim, uísque e vodca.
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Uma vítima relatou ter perdido a visão após beber três caipirinhas. Outros sintomas relatados incluem convulsões, problemas renais e AVC.
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A origem da contaminação ainda não foi confirmada: pode ser adulteração intencional ou contaminação durante a produção normal.
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Uma operação da Polícia Civil em Americana prendeu dois suspeitos de falsificação e adulteração de bebidas.
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Até o momento, não há casos confirmados em outros estados, mas há suspeita de distribuição interestadual.
Há ligação com o PCC?
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) levantou a hipótese de que o metanol usado nas bebidas adulteradas poderia ter relação com o crime organizado, já que a substância também é usada ilegalmente para “batizar” combustíveis.
No entanto, o governador Tarcísio de Freitas e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, descartaram qualquer evidência de envolvimento do PCC, afirmando que os inquéritos indicam que se trata de destilarias clandestinas independentes.
Como se proteger e identificar bebidas adulteradas
Associações do setor, como Abrasel e Abrabe, indicam medidas de precaução:
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Compre bebidas em estabelecimentos confiáveis.
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Desconfie de preços muito abaixo do mercado.
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Observe se o líquido contém micropartículas ou sujeiras.
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Exija nota fiscal.
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Verifique o lacre da embalagem. Se violado, a bebida pode estar adulterada.
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Rótulos mal colados ou borrados podem indicar falsificação.
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Procure registro do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
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Destilados devem ter o selo de IPI próximo à tampa, garantindo fiscalização oficial.
O que é o metanol e seus riscos
O metanol é um produto químico industrial, usado em fluidos de limpeza e anticongelantes. Não é próprio para consumo humano e é altamente tóxico.
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Pequenas quantidades podem ser letais.
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Inicialmente, os sintomas se confundem com embriaguez ou náusea.
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No organismo, o metanol é metabolizado em formaldeído, formiato e ácido fórmico, que atacam nervos e órgãos, podendo causar cegueira, coma e morte.
“O formiato age como cianeto, interrompendo a produção de energia nas células, e o cérebro é especialmente vulnerável”, explica Christopher Morris, professor da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
A toxicidade depende da dose e do peso corporal. A detecção precoce e o tratamento imediato aumentam as chances de sobrevivência.
Como é tratado
A intoxicação por metanol é uma emergência médica:
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Pode ser tratado com medicamentos específicos ou diálise para limpar o sangue.
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Em alguns casos, o etanol (álcool comum) é usado como antídoto, competindo com o metabolismo do metanol e reduzindo a produção de substâncias tóxicas.
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O sucesso do tratamento depende de intervenção rápida.
“Você pode morrer com uma pequena quantidade de metanol e sobreviver com uma quantidade maior, se receber ajuda rápida e adequada”, alerta Knut Erik Hovda, da organização Médicos Sem Fronteiras.
Casos recentes no mundo
Incidentes envolvendo metanol não são exclusivos do Brasil:
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Rússia: dezenas intoxicadas e ao menos 25 mortes por vodca ilegal.
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Turquia: centenas intoxicados e pelo menos 160 mortes confirmadas em Istambul e Ancara.
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Laos: seis turistas morreram após consumir bebidas contaminadas em Vang Vieng, levando ao fechamento de fábricas e proibição de certas vodcas e uísques locais.
O aumento de casos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol alerta para a necessidade de atenção ao comprar e consumir álcool, especialmente em locais sem fiscalização rigorosa. As autoridades brasileiras seguem investigando a origem das bebidas e reforçando a importância de prevenção, fiscalização e conscientização da população.
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