Por Cesar J. Rosa – Washington (EUA) – O governo dos Estados Unidos entrou em paralisação parcial nesta quarta-feira (1º), após o Congresso não conseguir aprovar um projeto de lei orçamentária que garantisse o financiamento federal. O impasse coloca em suspensão uma série de serviços públicos, enquanto milhares de servidores serão colocados em licença temporária.
O fenômeno, conhecido como “shutdown”, é o 15º desde 1981 e ocorre em meio a divergências sobre programas de assistência médica prestes a expirar. Democratas afirmam que só aprovarão o orçamento se esses programas forem prolongados, enquanto os republicanos defendem que saúde e financiamento federal sejam tratados separadamente, acusando os opositores de usar o orçamento como moeda de troca em ano eleitoral.
O ex-presidente Donald Trump, que mantém influência significativa no partido, intensificou o clima de tensão. Ele declarou que poderia adotar medidas “ruins e irreversíveis”, incluindo a demissão de servidores e o encerramento de programas ligados aos democratas. “Vamos demitir muita gente. E eles serão democratas”, afirmou na terça-feira (30/9).
Tentativas de negociação entre líderes democratas e republicanos, mediadas por Trump na Casa Branca na segunda-feira (29), não avançaram. Na noite de terça, senadores tentaram aprovar o orçamento, mas a última proposta recebeu apenas 55 dos 60 votos necessários.
Serviços essenciais e impactos imediatos
Com a paralisação, apenas serviços considerados essenciais continuarão em operação. Isso inclui segurança pública, fiscalização de fronteiras, parte do controle aéreo e atividades militares estratégicas. No entanto, milhares de funcionários serão afastados, e aqueles que permanecerem trabalhando podem ter salários suspensos temporariamente, sendo pagos retroativamente após a normalização do orçamento.
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Aeronáutica e controle de tráfego: Cerca de 11 mil funcionários da FAA serão enviados para casa. Entre eles, 13 mil controladores de tráfego aéreo continuarão trabalhando sem receber salário. Atualmente, os EUA enfrentam déficit de cerca de 3.800 controladores, o que aumenta o risco de atrasos e interrupções em aeroportos.
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Turismo e patrimônio público: Parques nacionais, museus e zoológicos federais podem ter funcionamento reduzido ou suspensão total. A Estátua da Liberdade e o National Mall, em Washington, devem interromper visitas.
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Segurança e defesa: Mais da metade dos 742 mil funcionários civis do Pentágono será afastada, mas cerca de 2 milhões de militares permanecerão ativos. Agentes do FBI, da Guarda Nacional e outras forças federais continuarão trabalhando. Visitas de autoridades estrangeiras previstas podem ser canceladas.
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Serviços sociais e econômicos: O Serviço Postal, aposentadorias, benefícios de invalidez e programas de assistência alimentar continuam em funcionamento enquanto houver recursos. Tribunais federais, Receita Federal e emissão de empréstimos podem ter operações limitadas.
Histórico e precedentes
O último “shutdown” ocorreu entre 2018 e 2019, durante o primeiro mandato de Trump, em disputa sobre financiamento de um muro na fronteira com o México. A paralisação durou 35 dias e custou aproximadamente US$ 3 bilhões. Na ocasião, atrasos e filas em aeroportos se tornaram recorrentes, principalmente em Nova York.
Consequências econômicas e sociais
Além dos impactos diretos nos serviços públicos, a paralisação pode atrasar a divulgação de dados econômicos importantes, afetando políticas públicas, investidores e pequenas empresas. A indefinição orçamentária gera incerteza no mercado financeiro, podendo pressionar juros, câmbio e investimentos estrangeiros.
Analistas alertam que, caso o impasse se prolongue, o “shutdown” pode ter efeitos duradouros na confiança institucional e no funcionamento da máquina pública americana, além de prejudicar cidadãos e turistas que dependem de serviços federais.
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